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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Lições nº 61 e 62

Lições nº 61 e 62
2010-01-18

A Origem das Ideias (Resumo)

Ponto nº 1 - Inicialmente toda a gente tem consciência que existe uma dife­rença considerável entre as percepções da mente pelo simples facto de um homem poder sentir a dor de um calor excessivo ou o prazer de um ardor moderado, e depois trazer de volta à sua memória o que sentiu, ou antecipando mediante a sua imaginação. Estas faculdades que permitem ao homem voltar ao momento em que sentiu a tal dor não conseguem porém atingir a força e vivacidade do sentimento sentido original. O que de certo sabemos é que representam o seu objecto de uma maneira tão viva que poderíamos quase dizer que o sentimos ou vemos, a menos que a nossa mente esteja possuída pela doença ou pela loucura, estas por sua vez nunca podem chegar a tal nível de vivacidade que tornem totalmente indistinguíveis as percepções. É possível dizer que mais vivo pensamento é ainda inferior à mais baça sensação pois todas as cores da poesia por mais bonitas que sejam não conseguem pintar uma paisagem e tornar a sua descrição real, e esta distinção similar prevalece em todas as outras percepções da mente. É impossível confundir esta concepção porque quando reflectimos acerca dos nossos sentimentos e estados de ânimo passados, o nosso pensamento é um espelho fiel que retrata objectos com verdade porém as cores que emprega são indistintas e baças em comparação daquelas com que estavam revestidas as nossas percepções originais.

Ponto nº 2 - É possível dividir todas as percepções da mente em duas classes ou tipos, que se distinguem pelos seus diferentes graus de força e vivacidade. As menos intensas e vivas são designadas Pensamentos ou Ideias. O outro tipo de percepções precisa de um outro nome, porque não havia quaisquer requisitos, a não ser filosóficos, para os classificar sob um termo ou designação geral e devido a isto optou-se por Impressões. Este termo significa todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos. As impressões distinguem-se das ideias, por serem menos intensas, das quais somos conscientes quando reflectimos sobre qualquer das sensações ou movimentos acima mencionados.

Ponto nº 3 - Nada, à primeira vista, pode parecer mais livre do que o pensamento do homem, que consegue dar forma a monstros e associar imagens e aparências, isto não custa à imaginação maior esforço. E enquanto o corpo está confinado a um planeta, ao longo do qual se arrasta com dor e dificuldade, o pensamento consegue num instante, transportar-nos para as mais distantes regiões do universo ou mesmo para lá do universo, para o caos ilimitado, onde a natureza, por suposição, se encontra em total confusão. O que nunca foi visto pode conceber-se e nenhuma coisa existe para além do poder do pensamento, excepto o que implica uma absoluta contradição.
Este pensamento humano encontra-se confinado a limites muito estreitos e que todo este poder criador da mente nada mais vem a ser do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos são fornecidos pelos sentidos e pela experiência. No final de contas, todos os materiais do pensamento são derivados da sensibilidade externa ou interna: a mistura e composição destes pertencem apenas à mente e à vontade. Ora, para se poder expressar em linguagem filosófica, todas as ideias, ou percepções mais fracas, são cópias das nossas impressões ou (percepções) mais intensas.

Ponto nº 4 – Os seguintes argumentos são capazes de provar isto. Ao analisarmos os nossos pensamentos ou ideias, por muito intricadas que sejam, sempre descobrimos que elas se resumem a ideias tão simples como se fossem copiadas de uma sensação ou sentimento precedente, mesmo que estas ideias se afastem da sua origem origem. A ideia de Deus, enquanto significa um Ser infinitamente inteligente, sábio e bom, resulta da reflexão sobre as operações da nossa própria mente, e eleva sem limite essas qualidades da bondade e sabe­doria. Podemos prosseguir com esta ideia até ao ponto que nos agradar, onde sempre descobriremos que todas as ideias que examinamos são copiada de uma impressão similar. Aqueles que afirmarem que esta posição não é universalmente verda­deira nem sem excepção têm um só e fácil método de a refutar, apresentando essa ideia que, na sua opinião, não é derivada desta fonte. Compete-nos, a nós, se havemos de manter a nossa doutrina, mostrar a impressão, ou a percepção viva que lhe corresponde.

Ponto nº 5 - O exemplo que é apresentado diz que um homem que possui de certa forma uma deficiência nos órgãos não é susceptível de qualquer espécie de sensação, porém observamos que ele é pouco susceptível a ideias correspondentes. Um exemplo disso é que um homem cego não consegue formar uma noção das cores e um homem surdo dos sons. Restitui-se a cada um deles o sentido em que é deficiente, e embora haja poucos ou nenhuns exemplos de uma semelhante deficiência na mente, em que uma pessoa nunca reconheceu ou é totalmente incapaz de um sentimento ou paixão que pertence à sua espécie, no entanto, descobrimos que a mesma observação ocorre num grau menor. Admite-se prontamente que outros seres possam possuir muitos sentidos dos quais não temos nenhuma noção, porque as ideias deles nunca nos foram introduzidas da única maneira pela qual uma ideia pode ter acesso à mente, isto é, através da sensibilidade e da sensação efectivas.

Ponto nº 6 - Existe, contudo, um fenómeno contraditório que pode provar que não é absolutamente impossível surgirem ideias independentes das suas impressões correspondentes. Da maneira que as várias e distintas ideias de cor, que entram pelos olhos, ou as de som, que são trans­portadas pelos ouvidos, são realmente diferentes umas das outras, embora, ao mesmo tempo, se assemelhem. Ora, se isto é verdade a respeito das diferentes cores, também deve ser verdade acerca dos diferentes matizes da mesma cor; e cada matiz produz uma ideia distinta, independente do resto. Se houver algo que se possa de negar, é possível porque a contínua gradação de matizes, desloca insensivelmente uma cor para o que mais remoto dela está; e se não se permitir a algum dos meios ser diferente, também não se pode, sem absurdo, recusar aos extremos serem os mesmos.

Ponto nº 7 - Todas as ideias por si mesmas são abstractas, são naturalmente vagas e obscuras a mente obtêm delas apenas um escasso domínio e são propensas a confundir-se com outras ideias semelhantes porque quando as utilizamos muitas vezes algum termo, embora sem um significado distinto, temos a tendência para imaginar que possui uma ideia determinada a ele anexa. Por isso, todas as impressões, isto é, todas as sensações, quer externas ou internas, são fortes e vivas, e os limites entre elas estão mais exactamente determinados, e nem é fácil cair em erro ou engano em relação a elas. Face a esta tão clara elucidação das ideias, podemos justamente esperar remover toda a disputa que possa surgir acerca da sua natureza e realidade.

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